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César Mourão > "É na SIC que eu estou"

Há sete anos a fazer rir Portugal, na SIC, e há dez a inventar palavras no grupo de teatro Commedia à la Carte, César Mourão tem "a maluquice de arriscar". E sabe que um dia deixará de ter piada.
Fez humor em Companhia das Manhãs, na SIC. Que balanço faz dessa experiência?
Nas manhãs da SIC - e já lá vão seis ou sete anos - parecia tudo muito complicado porque as personagens estavam estereotipadas entre a figura da empregada de limpeza e a do alentejano. Mas, com algum esforço, consegui impor que algumas personagens fossem aceites. E tratou-se mesmo de impor. Aconteceu com o papel do Fonseca, ele era a antítese do humor. As pessoas riam-se e ele ficava chateado.
O programa foi retirado de antena. O César foi dispensado de funções?
Não. Por ter acabado o Companhia das Manhãs não quer dizer que eu saia do ecrã. Por enquanto, não estou a fazer nada em televisão por opção minha. Já tinha dito, antes de ter conhecimento da chegada do programa da Júlia, que não passava pelos meus objectivos continuar na manhã. Queria uma paragem do programa da manhã e do day time. A SIC, obviamente, compreendeu.
Porque diz que não tinha como prioridade manter-se num programa da manhã?
Como tudo na vida, as coisas vão mudando. Achei que era altura de fazer coisas novas, mas essas passam pela continuidade de actor televisivo.
Participou nos programas Hora H e Fátima. Que aprendizagens tem retirado deste contacto contínuo com a televisão?
Trabalhar em directos tem-me dado adrenalina. Ter de alterar tudo e ter, repentinamente, de criar uma situação nova em televisão tem-me dado uma bagagem muito interessante. A televisão tem a sua magia, mas temos de saber aproveitá-la da melhor forma e perceber onde é que ela está.
E isso traduz-se em...
Tentar fazer o que gostamos dentro de um universo onde nem sempre é fácil fazê-lo. A televisão vive de audiências e nós temos de traduzir o nosso trabalho em números e, portanto, nem sempre fazemos o que mais gostamos.
Está a dizer que já fez papéis por causa das audiências?
Não. Na verdade não. Até quando fiz o papel de Alzira, a empregada de limpeza, tentei construir algo com que me identificasse mais. Até hoje, não houve nenhuma personagem - e talvez essa fosse a personagem que eu menos gostava de fazer - que tivesse feito por frete.
É ou não dada liberdade a um actor-comediante para criar em televisão?
Sim, é dada. Mas vai de nós não nos encostarmos ao mais fácil. Não podemos encostar-nos a uma ou duas personagens só porque sabemos que funcionam junto do público. Os canais de televisão, acredito, estão prontos para aceitar os nossos desafios, mas temos de provar em plateau que aquela personagem faz sentido.
E travou essa luta por algum papel?
Sim, e é normal. Vivi isso com o Carcaça, porque era um homem que comia e não se percebia nada do que ele dizia. Houve quem me dissesse que não iria perceber-se nada, mas acabou por se tornar uma personagem muito popular.
Para lá das câmaras de televisão, faz também rir os portugueses através do grupo de teatro Commedia à la Carte.
O balanço é fantástico. Somos três actores e estamos juntos há dez anos. E ainda não deixámos de trabalhar um só mês, tivemos sempre trabalho desde que viemos para o Teatro Villaret, uma sala que nos abriu as portas. Muitos dos teatros em Portugal fecharam-nos as portas. Diziam que este teatro não era bem o género da casa.
O vosso espectáculo assenta no humor físico, na comédia de improvisação. Como explica o sucesso em Portugal?
O público gosta do risco. E o público português é malicioso nesse aspecto. Não me digam que quando vamos ao circo não pensamos: "Deixa lá ver quando é que o gajo do trapézio cai." O público está do nosso lado mas também pensa: "Vou tentar tramá-los. Vou pedir para fazerem uma personagem ainda mais complicada e é agora que eles vão enganar-se." Mas isso faz parte. O público está uma hora e meia à espera de uma gafe, de um engano.
A improvisação intimida-o?
A improvisação já me assustou muito. Agora, continua a assustar-me, mas não tanto. Dez anos a improvisar, a enfrentar plateias, deu-me alguma maluquice, nem é experiência. Deu-me maluquice para arriscar.
E perder a piada? Teme?
Isso vai acontecer. Estou tão preparado para isso como para a morte. Sei que vou morrer e que existirá um dia em que as pessoas vão dizer: "Este gajo não tem piada nenhuma." A minha luta é que isso não aconteça amanhã.
É pai de uma menina. A paternidade inspira-o enquanto actor e humorista?
Tem de me inspirar, porque alerta-me cada vez mais para trabalhar a sério, para não ficar desempregado e ganhar dinheiro para ela (risos) A minha filha, a Mariana, tem dois anos e imita tudo e mais alguma coisa.
Que metas profissionais quer alcançar?
Gostava de ter um programa meu e espero vir a cumprir isso.
Assente em que alinhamento?
Um programa com dignidade, em que toda a equipa trabalhe para que o público português ria.
Uma proposta para apresentar à SIC?
Desde que trabalho na SIC, há seis ou sete anos, ainda não trabalhei para outro canal... Estamos a construir, desde que estou no canal, novas propostas. É uma constante. É na SIC que estou.
Quais são os seus maiores objectivos pessoais?
Para lá da felicidade da minha filha, que é o meu objectivo número um, quero encher os teatros e fazer cada vez mais boa televisão. Esforçar-me todos os dias para que o meu trabalho não caia neste flagelo que é o desemprego.
NTV

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