Laços de Sangue marcou um passo novo na produção da ficção nacional e o culminar foi mesmo o Emmy ganho. A parceria entre a SIC, TV Globo e SP Televisão vai ser exibida em todo o mundo já a partir de 2013.
Guilherme Bockel ao lado do director geral da SIC, Luís Marques
Quem o garante é Guilherme Bokel, responsável executivo internacional da TV Globo, que, em declarações à Notícias TV desta sexta-feira, refere que “vamos exibi-la no canal internacional da TV Globo, em todos os países do mundo e muito provavelmente no Viva” garantindo que as vozes de Diana Chaves e de Joana Santos não irão ser dobradas.
Tanto Eixo do Mal da SIC Notícias como a novela Laços de Sangue da SP Televisão que foi produzida para a SIC não conseguiram arrecadar os Prémios Autores SPA/RTP 2012. Se o Eixo do Mal não conseguiu levar a melhor sobre Câmara Clara e Linha da Frente (que acabou por vencer) já a novela que ganhou o Emmy Internacional não conseguiu ser eleito o melhor programa de ficção em Portugal. Na categoria de melhor programa de ficção a novela Laços de Sangue concorreu com Pai à Força e com O Último a Sair sendo que este último arrecadou o galardão.
Gabriela Sobral faz "um balanço positivo" de 2011, o primeiro ano que acompanhou inteiramente como directora de Produção da SIC.
"A nossa ficção foi consagrada e reconhecida internacionalmente com um Emmy para ‘Laços de Sangue’, tivemos ‘Peso Pesado’, um formato que colocou a SIC num patamar de excelência na área dos reality shows e o resto da antena foi tranquilo", avalia a responsável.
No entanto, apesar de um começo de ano "com uma performance muito boa, com ‘Peso Pesado’ a obter números inacreditáveis", o mesmo não se repetiu no segundo semestre. "Este final de ano tem sido conturbado, a concorrência não nos tem deixado respirar muito", admite a directora de Carnaxide. "Olhamos para a antena e para a nossa medição de audiências e o próprio painel está um pouco esquizofrénico". "Penso que isso se deve ao reflexo da crise, as pessoas começaram a entrar um pouco em convulsão, mas tenho ideia de que as coisas vão estabilizar no início de 2012", perspectiva Gabriela Sobral.
O autor da SP Televisão foi premiado com um Emmy por ‘Laços de Sangue’. O segredo, diz, é “estar atento e informado, ler jornais, conhecer pessoas e frequentar muitos cafés”
‘Laços de Sangue' venceu o Emmy de melhor novela internacional. O que sentiu quando ouviu o anúncio?
Foi uma euforia. Tinha uma expectativa enorme com esta nomeação porque o trabalho que fizemos teve o impacto que teve em Portugal, conseguiu agarrar o público. Foi uma novela que fez parte da vida das pessoas ao longo daqueles meses, o que era um fenómeno que estava a desaparecer. Isto fez-me acreditar que, depois da nomeação, também era possível vencer. E em Nova Iorque, ao ter a possibilidade de visionar as outras nomeadas, percebi que seria possível vencermos. Só havia uma situação que jogava contra nós: o facto de uma novela portuguesa ter ganho no ano passado.
Como têm sido estes dias desde que receberam o Emmy? Alguma coisa mudou?
Ainda é muito recente. Claro que há uma série de solicitações. O que espero que mude é o impacto que a nossa ficção tem lá fora e que permita que ‘Laços de Sangue' possa ser vista um pouco por todo o mundo, dobrado em várias línguas.
Portanto, o que pretende é a internacionalização da novela...
O que pretendo é a internacionalização da nossa ficção em geral.
Pessoalmente, acha que o prémio lhe pode abrir portas a nível internacional?
Não pensei nisso. Gosto do que faço, gosto de estar na SP Televisão, tenho tido oportunidade de fazer coisas que me dão muito prazer e tenho a felicidade de me darem espaço criativo. Sinceramente, ir para Los Angeles [Hollywood] não é uma coisa que me deslumbre. Quero continuar a fazer mais pela nossa ficção.
A novela portuguesa ultrapassou a brasileira?
Há algumas novelas portuguesas que serão melhores que as da Globo mas o problema orçamental está sempre presente. Estamos a falar de ordens de grandeza que não são comparáveis. O problema de Portugal é só ter 10 milhões de habitantes, a audiência é reduzida, as receitas publicitárias são reduzidas o que resulta em orçamentos reduzidos para a ficção. Esse é o nosso principal problema, e temos de o ultrapassar com o nosso esforço.
No entanto, os prémios mostram que os orçamentos não são tudo...
Sim, as soluções criativas podem ser um aliado.
Depois de ‘Laços de Sangue' a SIC estreou ‘Rosa Fogo' (de Patricia Muller). O que está a falhar para não cativar tanto público?
Não está nada a falhar. Não há é fórmulas para o sucesso de uma novela. As questões da programação na estação onde a novela é exibida e nas outras pode contribuir para o sucesso ou não, mas o produto em si não tem nenhum problema.
O facto da Globo não estar presente nesta novela poderá ser uma explicação?
Não, porque como lhe disse não acho que a novela tenha qualquer problema. Temos excelentes profissionais em Portugal, a novela tem excelentes actores, o projecto está bem elaborado e, portanto, não partilho das críticas que lhe fazem.
Actualmente quem tem as melhores novelas? A SIC ou a TVI?
Na SP, com a aposta da SIC, trabalhamos para oferecer a melhor ficção e tentar superar a concorrência directa que temos. Agora, temos uma diferença: a TVI tem em exibição três, quatro novelas e nós estamos a produzir uma, o que torna um bocado difícil a comparação. Quero acreditar que aquilo que fazemos possa ter mais qualidade, mas deixo isso para os críticos da especialidade e, sobretudo, para o público.
Já escreveu séries e novelas. Quais as principais diferenças?
A novela exige uma capacidade de trabalho muito grande, lidamos com muitos núcleos de personagens. E temos sempre de criar um ‘gancho' para agarrar o público. Além disso, as novelas vivem da vida privada das personagens o que nas séries, muitas vezes, não acontece. A diferença passa muito pelo estilo de escrita.
O que gosta mais de escrever?
Quero é poder fazer tudo! Não quero só fazer séries ou telenovelas. Quero contar histórias. Quero escrever dramas, quero escrever humor e tenho tido a felicidade de poder escrever coisas muito diferentes.
Qual o projecto em que mais gostou de trabalhar até agora?
É muito complicado. Todos os projectos que tenho feito têm-me dado muito prazer. A escrita é muito obsessiva e, portanto, aquilo em que se está a trabalhar é sempre a escolha do momento. Por isso, neste momento, a minha opção é o ‘Dancin' Days'. Houve algum projecto que tenha contribuído decisivamente para o seu crescimento como autor? Esta última fase das novelas, o ‘Perfeito Coração' e o ‘Laços de Sangue', foi fundamental para a minha aprendizagem. Escrever para um canal que é líder de audiências [TVI] é mais confortável e quando me mudei para a SIC o desafio foi enorme. Quando é lançado o desafio de tentar superar a TVI é uma grande responsabilidade e aí senti um crescimento como autor porque me quis superar.
Pela sua experiência, quais as diferenças entre as produções dos dois canais?
Hoje em dia a tecnologia está acessível a todos e, portanto, a diferença não é tecnológica. Há é diferenças de conceitos e obviamente pessoas diferentes que estão a trabalhar o mesmo género. Quando a SP criou a sua equipa criou-a pensando numa determinada identidade para a sua ficção e a SIC escolheu a SP como parceira porque achava que essa identidade se adequava mais àquilo que é a estação e que é o seu público. Mas não há uma resposta simplista para quem é o melhor ou o pior. O futuro vai reforçar a presença de novelas ou poderão surgir em força outros géneros de ficção, como séries ou telefilmes? É importante a diversidade de ficção e na SP temos tido essa opotunidade de trabalhar com vários géneros. Mas não sei para onde é que caminhamos.
A venda de um canal da RTP poderá trazer alguma mudança para os autores?
Não acho que um novo canal vá mudar assim tanto. Para os autores o grande desafio era se o cabo começasse a produzir ficção portuguesa, coisa que neste momento não acontece porque em termos de lei nem sequer têem essa obrigatoriedade. Estes canais compram exclusivamente ficção estrangeira e se assim não fosse talvez as coisas fossem diferentes.
As séries e telefilmes nacionais têm a mesma qualidade das novelas?
Sim! Estava em Nova Iorque e quando estávamos a ver os candidatos para melhor série comecei a pensar: podiámos estar aqui também! Claro que voltamos às questões de orçamento e isso pode ser uma limitação. E as nossas séries até estão a ter impacto lá fora. A ‘Liberdade 21' esteve presente em inúmeros festivais internacionais, a ‘Cidade Despida' ganhou um prémio em Moscovo, ‘O Segredo de Miguel Zuzarte' esteve em Berlim. Claro que depois, como aconteceu em Monte Carlo, ter a ‘Liberdade 21' a competir com o ‘Dexter', ‘Lost' e ‘Mad Men' reduz a possibilidade de ganhar. Estamos a falar de orçamentos astronómicos e de séries que gravam quase como cinema. Mas estar nomeado na mesma categoria da ficção americana quer dizer que estamos na primeira divisão.
Trabalha para RTP e SIC. Sente alguma diferença?
A principal diferença tem sido na questão dos formatos que produzimos para cada um. Porque de resto há um respeito enorme entre todas as partes.
Onde arranja inspiração?
(risos) O fundamental para um argumentista é estar atento e informado. Ler jornais, conhecer pessoas, frequentar muitos cafés. Muitas personagens que acabamos por escrever são uma espécie de ‘best of' de pessoas que vamos conhecendo. O importante é ter algum mundo!
Neste momento está na SP Televisão. Onde perspectiva estar daqui a uns anos?
Provavelmente na SP. Estou muito bem na SP, gosto daqui estar e das pessoas que trabalham comigo.
Está actualmente a trabalhar no remake de ‘Dancin' Days'. O que espera desta novela?
Tenho as expectativas muito altas. Está a correr muito bem. Estou a trabalhar com grande parte dos argumentistas que escreveu os ‘Laços de Sangue'. Já temos alguns episódios escritos. É um texto que toda a gente se lembra e portanto o que quero é que mantenha a identidade do original mas que ao mesmo tempo tenha a ousadia para ser mais do que isso.
Vai contar com a colaboração do Gilberto Braga?
Não sei. Vai depender dele. Estive no Rio de Janeiro a conversar com ele sobre as ideias para o remake. Foi uma conversa muito produtiva.
Em Laços de Sangue trabalhou com outro grande autor brasileiro Aguinaldo Silva. Como se processou essa colaboração?
O Aguinaldo é uma pessoa muito interessante. Tem um enorme respeito pelo nosso trabalho e não tentou mudar a nossa maneira de o fazer. Foi um excelente conselheiro que nos momentos precisos deu uma opinião sobre aquilo que estávamos a fazer. É alguem que sabe muito disto.
O que aprendeu com ele?
A principal lição foi o não ter vergonha de ir ao fundo das emoções quando se escreve. Drama é drama. Ensinou-me o lado despoderado de escrever novela.
As co-produções com a Globo devem continuar?
Isso é uma decisão que depende da SIC e da Globo. Claro que para mim ter a oportunidade de conhecer outros profissionais que têm muito conhecimento do que é novela é uma grande riqueza. Tenho tentado aproveitar ao máximo as conversas com eles.
Já sabe o que vai fazer a seguir?
Neste momento é só ‘Dancin' Days'. E nem estou preocupado com o que vou fazer a seguir. Temos de estar focados naquilo que estamos a fazer e no nosso objectivo imediato e ainda tenho muitos meses pela frente de ‘Dancin Days'.
PERFIL
Pedro Lopes, 35 anos, é casado e tem duas filhas. Licenciado em História pela Faculdade de Letras de Lisboa, foi durante o tempo de universidade que se iniciou nas lides televisivas como produtor. Trabalhou como guionista dos quatro primeiros ‘Big Brother', tendo ficado na TVI até 2007, quando se mudou para a SP Televisão. Actualmente, para além de Director de Conteúdos da produtora, é professor na Escola Superior de Comunicação Social.
Gabriela Sobral (ao meio) com Júlia Pinheiro e Diogo Morgado
"Cada vez mais, quando olho para a ambas as estações e para o que é hoje a TVI e a SIC, tenho a certeza de ter feito a escolha certa. A TVI mudou muito. Mas se olhar para a grelha está igual, é quase filosófico", diz a directora de Produção da SIC e ex-braço-direito de José Eduardo Moniz na TVI.
"O que mudou radicalmente foi a informação. A informação é um pouco a caracterização de um canal, e olho para aquilo e... parece a RTP, mas não é... O que falta ali na TVI é identidade", sublinha Gabriela Sobral, que se regozija com as consequências desta mudança, que se reflectiram na SIC. "Sem dúvida que ganhámos público. ‘Laços de Sangue' conquistou telespectadores das novelas da TVI. ‘Sedução' não ‘vendeu' bem. Mas isto é tudo uma questão de gestão. Eles tinham três novelas em prime-time e nós tínhamos de ter uma que agarrasse o público", explica. Luís Marques, director-geral da SIC, disse ao CM que ‘Laços de Sangue', galardoada com um Emmy, levou novos públicos para o canal: ganhou "duzentos mil espectadores ao longo da novela".
A directora de Produção da SIC considera ainda que a TVI mantém a programação de sempre: "Aquilo é uma herança. Os programadores não mexem na novela, no reality. Não há nada de novo, mas é o que faz sentido ali."
"Nunca na história dos Emmy um País ganhou duas vezes a mesma categoria e ‘Laços de Sangue’ concorreu com novelas da Globo. Por este motivo foi uma vitória mais saborosa", disse ao CM Luís Marques.
O director-geral da SIC revela ainda, à margem de uma conferência de imprensa, que esta novela atraiu mais 200 mil espectadores para o canal, pelo que a estratégia agora passa por manter "este nível de qualidade", conta. Luís Marques responde ainda ao repto lançado por António Parente, presidente da SP Televisão: "O ideal seria ter duas novelas em prime-time, mas não temos orçamento para isso".
Cinco dias passados desde a grande conquista na cidade de Nova York, o Emmy ganho pela telenovela “Laços de Sangue” foi finalmente exibido em Portugal nas instalações da SIC, em Carnaxide. O encontro decorrido na tarde de ontem, 25 de Novembro, reuniu o elenco da “novela da nossa gente” num ambiente festivo de comemoração.
O director-geral da SIC Luís Marques inaugurou a pequena cerimónia com um discurso a recordar todo o processo de produção da novela. Em virtude das dificuldades em conjugar as vontades da SIC, Globo e SP num espaço de tempo que já era muito curto, Luís Marques afirmou que numa fase embrionária “este era um projecto que tinha tudo para correr mal, havia muitas dúvidas iniciais”. Mas o entendimento foi possível. Depois do grande sucesso de audiências, “Laços de Sangue” candidata-se ao Emmy na categoria de melhor telenovela, numa luta que se apresentava como uma batalha perdida.
João Ricardo agarrado ao Emmy
“Tínhamos tudo para não ganhar. Para além de termos a forte concorrência da novela brasileira “Araguaia”, Portugal já tinha conquistado este prémio no ano anterior. Foi uma grande vitória para nós”, confessou Luís Marques.
A protagonista da novela Diana Chaves demonstrou-se muito satisfeita com esta vitória. A actriz portuguesa afirmou que a conquista do Emmy deixou os representantes da novela em Nova York sem reacção. “Demorámos alguns segundos a reagir porque não estávamos à espera. Mas quando percebemos que era mesmo verdade ficamos todos muito emocionados”, confidenciou Diana Chaves.
Foram vários os actores que marcaram presença
Na conferência de imprensa estiveram ainda presentes os restantes protagonistas do elenco de “Laços de Sangue” como Diogo Morgado, Custódia Gallego e João Ricardo, numa lista em que se fez notar a ausência de Joana Santos, uma das personagens principais da novela.
É já amanhã à noite que a SIC aposta numa noite virada para o Emmy de Laços de Sangue. A novela da nossa gente conquistou esta semana o Emmy de melhor telenovela do Mundo. A co produção da SIC e da TV Globo com produção da SP Televisão vai ser recordada este sábado à noite na SIC.
Uma emissão especial das 21h50 às 22h55 que terá imagens nunca antes desvendadas da novela da nossa gente...